terça-feira, 30 de abril de 2013

Desperto


E o Domingo inicia de forma lenta e lânguida como o corpo que agora desperta.
Na janela pardais disputam folhas e pequenos ramos de arbustos para aconchegarem os ninhos que vão construindo e as gaivotas vão sobrevoando os telhados dos prédios vizinhos e param, olhando sem questionar a azáfama dos ramos das árvores ondulando ao sabor do vento.
Hoje não há risos de crianças na rua, nem passos céleres nas pedras da calçada.
Hoje, quase todos parecem dormir ou deixar-se levar por este estranho silêncio de pessoas, talvez não o querendo perturbar ou apenas o desejam contemplar.
Aqui, a manhã vai já alta sem esperar ou se preocupar com o ritmo vergonhosamente desacelerado do meu acordar, numa evidente ausência de vontade em querer daqui sair.
Uma inércia apodera-se do meu ser acompanhada das memórias que me invadem os dias. Recordações gravadas tanto na Alma como na pele, tanto no paladar como no cheiro, tanto nas palavras sussurradas como nos beijos que nos selam as bocas.
E o corpo desperta agora, ao ritmo dos meus dedos deslizando em mim, imaginando os teus...
 
28.Abr.13
 


2 comentários:

  1. "Hoje não há risos de crianças na rua, nem passos céleres nas pedras da calçada."...

    Imagino-te a encostar a face ao vidro da janela. Se lá fora este domingo não é um dia igual aos outros, dentro da tua alma não há dias diferentes. Não é fácil o teu viver. Mas fica sabendo que os meus passos céleres - e os de tantos outros - ficam de súbito bem mais lentos ao reparar em ti na tua janela.

    Beijim! ;-)
    Giuseppe

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    1. Dentro da minha alma há muitos dias, uns semelhantes aos outros, outros parecidos com uns.
      Uma constante variedade de horas, que passam na sua lenta pressa de me retirarem as lembranças do caminho.
      São todas diferentes cá dentro. O lá fora é que é (quase) sempre igual se não existir um "eu" na janela que (te) faça abrandar e olhar...

      É sempre um prazer enorme receber-te neste cantinho! Enalteces-me com a tua presença. Sempre!

      Beijo(te) sem pressa.

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