quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Desistir

 

Desistir,
Há dias em apenas isso apetece,
Desistir.
Entregar-me ao desalento
Dos dias carregados de ausências,
Das horas em que o silêncio impera,
Dos minutos que teimam em não partir,
Em não se largarem dessa lentidão
Que me tortura,
Que me impede de olhar,
De ver o que há de bom.


Desistir,
Cair desamparada no caminho
Do não lutar,
Render-me à evidência do não vencer
E deixar-me,
Indefinidamente,
Levar pelo conformismo
Do meu perder.

Desistir,
De lutas incompreensíveis,
Feitas de batalhas mesquinhas
De sentimentos opostos,
De diferenças que parecem,
Nestes dias de perda,
Insuperáveis.

Desistir,
De mim,
Do que sou,
Das minhas crenças
E da minha forma de ser,
Fraca, demasiado fraca
Perante o meu sentir por ti,
Imensa,
Estúpida,
Incompreensivelmente maior
A cada dia que vai passando,
Tomando-me por completo,
Quase me anulando...

Desistir,
De fazer valer o amor,
De acreditar que este pode,
Mais e melhor
Que qualquer orgulho,
Qualquer palavra dita com mais furor,
Qualquer acção menos digna de louvor.

Desistir
De mim,
De ti,
De nós,
E deixar-me viver,
Sem esperança,
Sem alegria,
Viver por viver,
Como que quase a morrer.

30.Jan.2014 

Olho-me


Olho-me
No reflexo do que sou
Sem perceber o que vejo,
Tentando perceber o que
Os olhos não querem ver.

Olho-me
Imagem reflectida
De uma mulher,
Por vezes sofrida,
De um ser,
Que pode não sentir,
De um corpo que
Demonstra o passar de um
Tempo não parado,
Sempre corrido,
Por vezes guiado sob os pretextos
De uma conduta a ser seguida.

Olho-me
Analisando para lá da figura,
Para lá das marcas que a vida
Faz e que aqui perduram,
Para dentro destes olhos
Que espelham uma
Alma quase sempre perdida,
Rendida aos sentimentos
Imperfeitos de alguém
Que por vezes não vive junto
De gente que a acompanha,
Presa a perfeições de quem já seguiu caminho,
Por recordações guardadas na memória
Do corpo e da pele,
Lembranças gravadas nas histórias
Que fazem a vida
Valer a pena ser vivida.

Olho-me
Procurando-me a essência,
Bem no imo do meu ser,
Bem dentro do meu peito
Onde vai sempre bater
Este coração cheio
De sentires,
De prazer e de chorar,
De viver e de parar,
De receber e de (me) dar.

Olho-me
Analisando-me,
Perscrutando os silêncios do meu pensar,
Fixando os sons do meu me ver,
Encontro-me tranquila,
Consciente do que sou,
Habituando-me à mudança do crescer,
Do evoluir e do aprender,
Do acertar e do errar,
De valorizar o que dou,
De acreditar no que tenho em mim,
No que me faz,
Ser quem sou.


29.Jan.2014

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Há dias


Há dias em que não apetece viver, em que deixar as horas a correr são a opção perfeita.
Ficar imóvel, constante e tranquila perante o passar dos minutos que já não magoam.
Ficar estática, apenas esperando que o tempo passe, sem interferir no seu correr, sem querer o que quer que seja.

Parada. Respirar apenas.
Parada. Sem que os olhos vejam o bom, o mau, as cores. Tudo é a preto e branco. Não! A cinzas que se misturam indefinindo contornos e características.
Parada. Sem que os barulhos da vida inundem os sentidos.
Estagnada. Adormecida. Não! Dormente. Uma dormência que invade cada pedaço de mim. Que me impede de pensar ou de sentir.
Que me deixa indiferente ao que me rodeia. Sim! Completa e simplesmente indiferente. Aos outros. A mim. A ti.
Indiferente ao facto de o corpo ainda respirar, de o sangue ainda correr, de o coração ainda bater e te amar.
Há dias que não custam a passar. Que passam apenas porque têm de acabar...


27.Jan.2013

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Dias e noites iguais




 
O dia vai começando a despontar, devagar, lento, absorvendo e tomando como seu o frio da noite. Não há sons que sejam de vida, que mostrem que a escuridão já não reina, já não assusta de tanta solidão, de tanto silêncio. Não, o dia ainda não nasceu e os seus sons mantêm-se apenas como uma longínqua recordação das minhas memórias.
Os dias são todos iguais, seguidos de noites igualmente repetidas.
Os sons são sempre cadenciados em ritmos monótonos de repetições infinitas: silêncio, chilrear, passos a caminho do emprego, risos e brincadeiras até à escola, campaínhas freneticamente carregadas sob a esperança de um abrir de porta para o som metálico das caixas do correio invadir o hall da entrada, telefones secretária a disputar com o típico toque de chegada de mail, os talheres em mesas postas e levantadas num frenezim que se sucede, de novo os telefones, o bater de portas de carros, as conversas sempre resmungando do dia, da escola, do chefe, o bater da colher de pau na panela e a varinha (pouco) mágica, as notícias sussurradas perante o (surpreendente) espanto de mais uma catástrofe, silêncio...
Não há mudanças nos sons dos dias. Para mim há apenas a forma como faço a interpretação dos sons.
Há dias em que o dançar das folhas das árvores me fazem viver.
Há noites em que a ausência do teu respirar me faz morrer.
Há dias em que o cair da chuva impede o tempo de passar.
Há noites em que o calor do teu corpo me faz acreditar que é possível sonhar.

Há horas em que me sinto apenas e somente a (sobre)viver!
 
 
22.Jan.2014